segunda-feira, 29 de abril de 2013


Tudo está em tons de cinza. Mas não os tal dos cinquentas tons. Apenas escalas entre mais claros, mais escuros. Talvez alternando relamente do branco para o preto. Mas o cinza sempre predominando.
Percebo meu corpo movendo, mas não sinto nada. Não sinto vento, chão, nenhuma sensação, nada. Tento lembrar o sabor de comida, mas não lembro de comida para poder lembrar o sabor. Percebo que também não ouço nada. Além de dormente, estou só dentro da minha própria cabeça. Escuto ao longe apenas algo que acredito ser meu pensamento.

A única coisa que me acompanha é a percepção de coisas que me faltam, mas mesmo assim não consigo destinguir o que são. Não sei se estou vivo ou morto, talvez meio termo. Isso seria possível? Não lembro de modo algum ter aprendido ou ouvido falar sobre algo do tipo. Sei que apenas não sinto nada. Desejo, vontade, nada me é real.

Vagas lembrançar borradas tentam se formar no que acredito ser minha visão. Mas tudo em vão, pois nada me parece claro o suficiente para ser lembrado. E do nada eis que surge o primeiro sinal de sensação. Mas uma sensação desconfortável! No início é algo muito agudo. Muito pequeno, que vai surgindo como se estivesse esmagando algo dentro de mim que eu relamente não consigo descobrir o que é. Mas vou me sentindo menor do que eu já não sabia que era. Me vejo em cinza esmagado, mas não sinto nada, além do enorme aperto em alguma parte não definida de mim. Parte que por algum motivo eu pensei, ou acho que pensei, nunca poder ser esmagada.

Começo a perceber que consigo respirar. Então estou vivo! Mas percebo por que começo anão conseguir mais. O ar me parece diminuir e cada vez ficar mais raro e escarço. Relamente começo a me desesperar, e começo a tentar ignorar a dor que até então nunca tinha sentido algo parecido até o devido momento. Na concentração em tentar economizar o máximo de respiração, ao longo escuto alguns bips, e parecem seguir um certo padrão ritmico. Algo compassado, algo organizado.

Cada vez mais que começo a privar a respiração, além de se tornar difícil, os bips sobem o ritmo e isso faz com que o aperto também cresça dentro de mim. Só que começa a ficar impossível controlar a respiração com essa dor se tornando insuportável, os bips muito mais próximos e bem mais altos. Pareço estar me afogando mas não sinto água, e a minha dormencia começa a gerar um formigamento por tudo que acredito que seja meu corpo. Não existia nada até então, só a sensação de dormência, e agora o que me resta é uma dor acompanhada de formigação e um bip continuo ensurdecedor.

Uma grande explosão dentro de mim faz com que a minha dormência volte e com que o bip continuo comece a se afastar até sumir. O que era escala de tons de cinza claro começa a escurecer até eu simplesmente não conseguir ver nada além de preto, o silêncio se predomina e de repente não sou mais nada além de uma lembrança de mim mesmo.

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